top of page

Você não é dono dos seus games, e outras polêmicas.

  • Foto do escritor: Griffith Souls
    Griffith Souls
  • 5 de jan.
  • 8 min de leitura

O ano é 2002, você está indo em uma loja de games com seus pais, você ganha um Playstation 2, e com ele três games, GTA Vice City, Devil May Cry e Metal Gear Solid 2, é, bons tempos, agora pensa da seguinte forma, você chega em casa, liga o vídeo game, coloca o CD e é só jogar, não precisa estar conectado na internet para jogar, não precisa de um launcher de suporte, não precisa de conteúdo de pré-venda, não tem dlcs, é só você e o seu game, como deveria ser.


"Nova lei na California obriga as lojas revendedoras a informar que estão vendendo uma licença e não o produto em si"
"Nova lei na California obriga as lojas revendedoras a informar que estão vendendo uma licença e não o produto em si"

Sabe o que é melhor? O game era seu, nada mais importava, você era feliz e só não sabia, não é como hoje, onde as grandes empresas em sua vasta maioria lançam games quebrados, injogáveis e de qualidade patétita, repare que eu disse "em sua vasta maioria", porque sempre tivemos games de qualidade duvidosa, a diferença é que lá atrás se você lançasse um game era bom lançar sem bugs, porque uma vez que ele foi lançado, já era... Hoje em dia é fácil, lançam o game bugado, quase injogável e corrigem meses depois, porque aparentemente é aceitável na cabeça deles.


"O lendário cavalo do apocalipse que supostamente teria iniciado o fervor das dlcs e contéudos extras"
"O lendário cavalo do apocalipse que supostamente teria iniciado o fervor das dlcs e contéudos extras"

Recentemente, houve um grande alarde a respeito da Steam começar a informar seus consumidores de que estão comprando licenças para jogar, e não o game em si. A questão é que isso veio de uma lei no estado americano da Califórnia, e, na verdade, a única diferença é que agora a loja está dizendo isso, ou seja, já era assim antes, o que não deixa de ser triste.

Mas sabe o que mais me deixa extremamente irritado com essa digitalização forçada? É que os games podem ser removidos da sua conta a qualquer momento, e isso vale para jogos, filmes, músicas, tanto faz. Recentemente, aconteceu com a Sony, com um app onde você comprava filmes. Depois, ocorreu com a Ubisoft, tentando remover The Crew da conta dos usuários. E claro, há vários motivos para isso ocorrer: licenças de músicas ou personalidades famosas usadas na produção do game, e por aí vai. Mas nada disso justifica remover algo que você pagou. Para mim, no mínimo, se isso ocorresse, você deveria ser reembolsado pelo valor pago ou gasto no game. Mas, né, essas empresas não ligam para você e nunca fariam isso.


"Lançamentos a meia noite nos EUA, em uma GameStop"
"Lançamentos a meia noite nos EUA, em uma GameStop"

O tempo passa, e ele é cruel. Lembra quando havia os lançamentos à meia-noite? Você deve ter visto algum vídeo por aí falando sobre isso: a galera se reunindo e formando filas nas lojas, esperando para comprar os games, e em outros países até falando com dubladores, atores, pegando autógrafos, e, em um caso surreal, recebendo a primeira cópia de Halo 2 de nada mais, nada menos que Bill Gates. No meu caso, durante o lançamento de The Witcher 3, havia alguns eventos em lojas de Curitiba. Eu fui a um deles, mas só tinha gente maluca, e acabamos apenas comprando o game e indo embora.


"O cara foi comprar o Halo e quem deu o game pra ele foi o Bill Gates"
"O cara foi comprar o Halo e quem deu o game pra ele foi o Bill Gates"

Esses tempos de ouro não voltam mais. Com um mundo mais digital, muitas coisas mudaram. Não precisamos mais sair de casa para falar com nossos amigos, nem ficar pendurados ao telefone. Agora usamos o Discord para fazer isso, temos câmeras para mostrar nossas casas, podemos streamar nossos jogos para várias pessoas ao redor do mundo. E claro, muitas coisas boas surgiram com isso. Mas, para mim, algumas coisas foram perdidas, infelizmente. Por exemplo, aqueles encontros com os amigos para jogar Winning Eleven ou FIFA em um campeonato local. Agora, o foco da EA e da Konami é o online, com seus esquemas patéticos de usar as famigeradas loot boxes para tirar dinheiro dos jogadores. Por exemplo, FIFA 2006 tem muito mais conteúdo e é mais interessante em seu modo carreira do que FIFA 25.


"Bons tempos, bons tempos"
"Bons tempos, bons tempos"

A morte da mídia física também ronda por aí. E convenhamos, se você é o tipo de pessoa que tem preguiça de levantar da cadeira para trocar o CD, está tudo bem, comodidade é isso mesmo. Eu, por outro lado, sou mais o oposto: gosto dos bons tempos, gosto de poder ter os games na minha estante, gosto de olhar para eles e poder dizer que são meus. Hoje, infelizmente, talvez isso não seja mais possível. Dizem que os games, mesmo em mídia física, são apenas uma licença e que as empresas podem removê-los a qualquer momento. Se isso for realmente verdade, é mais um motivo para repensar a respeito dessas empresas. Afinal, por mais que você ame uma empresa ou uma certa franquia, lembre-se de que, no final do dia, você não é especial, não é importante. Você é apenas um número que abastece a conta bancária de uma minoria de executivos e alguns desenvolvedores dentro dessa empresa. Se essas pessoas pudessem, iriam até sua casa te extorquir. Claro, isso não se aplica a todos os casos, mas quando uma empresa espera que você pague quase um terço do seu salário por um simples game, ainda mais de qualidade duvidosa, acho que as reclamações são válidas. Agora, imagine: nem o game que você está comprando é realmente seu.


"A cara do gênio que disse que você precisa se acostumar a  não ser dono dos seus games"
"A cara do gênio que disse que você precisa se acostumar a não ser dono dos seus games"

As coisas tendem a piorar, com os executivos de várias empresas grandes tendo a audácia de dizer que precisamos nos acostumar a não sermos donos dos nossos games. Na ocasião, ele se referiu ao fato de as pessoas não serem fãs de serviços por assinatura. Bom, com um pensamento idiota desses, não é à toa que vários analistas apontam 2025 como um ano crítico para a Ubisoft. Vários anos de decisões bizarramente erradas culminaram em uma situação delicada para a empresa francesa, e existe um risco real de falência ou uma possível venda. Eu amo como o mundo dá voltas...

"Estoque da Ubi kk"
"Estoque da Ubi kk"

Recentemente, um site publicou uma informação interessante: em 2024, a vasta maioria dos usuários da Steam jogou games mais antigos, até mesmo retro. A preferência por games mais antigos foi clara, e os motivos são vários: preços absurdos, muitos lançamentos mais nichados como Metaphor e Silent Hill, e talvez questões de hardware tenham impactado isso também. Mas uma coisa é certa: existe um debate sobre se os games de hoje em dia não são tão bons quanto os de antigamente. Eu não acho que esse seja necessariamente o caso. Acredito que temos tantos games bons quanto antes, mas também acredito que os games de hoje têm orçamentos maiores, equipes maiores e levam mais tempo para serem produzidos. É impossível ter um The Last of Us 2, God of War, Elden Ring ou Baldur's Gate todo ano.


"A mídia de entretenimento que mais lucrou na história, GTA"
"A mídia de entretenimento que mais lucrou na história, GTA"

E claro, estamos falando apenas de games de grande orçamento. Temos muito mais jogos sendo lançados hoje em dia do que antigamente, e talvez a quantidade absurda de games ofusque obras incríveis. São muitos jogos competindo pela atenção do jogador em um curto período de tempo. Por exemplo, em janeiro de 2025, temos Dynasty Warriors Origins, Wuthering Waves, STAR WARS™: Episode I: Jedi Power Battles™. Em fevereiro, temos Monster Hunter Wilds, Kingdom Come Deliverance II, Avowed, Assassin's Creed Shadows. Esses são só os que consegui lembrar, então dá para imaginar, não é? E ainda teremos GTA VI este ano, caso não seja adiado. Teremos algo novo da FromSoftware, Elden Ring NightReign, que é um Rogue-Like cooperativo. Quem diria?


"O novo game da FromSoftware, Elden Ring NightReign"
"O novo game da FromSoftware, Elden Ring NightReign"

Talvez um dos maiores problemas que temos hoje em dia seja que podemos estar mal acostumados, considerando que lançamentos recentes dos últimos anos foram obras colossais como Elden Ring, Baldur's Gate 3 e Zelda: Tears of the Kingdom. Isso não é necessariamente um problema, mas pode impactar de alguma forma.


O preço dos games no Brasil é bizarro, como já mencionamos antes, e é bem arriscado pagar 300 reais em um Dragon Age: The Veilguard, por exemplo, que foi o meu caso: esperar por mais de 10 anos e se decepcionar com um game patético de baixa qualidade.


"Preço de Indiana Jones And The Great Circle na Steam"
"Preço de Indiana Jones And The Great Circle na Steam"

Na era PS1/PS2, quase todo mundo que eu conhecia tinha jogos piratas em casa. A situação era diferente da atual. Hoje, pelo menos no meu círculo de amigos, a grande maioria da galera não pirateia mais os games. Mas antes, era até engraçado: cansou do GTA? Pega o WWE. Cansou dele também? Vai para o Mafia. Não está afim? Pega o CD do Mortal Kombat e é isso. Claro, pagando barato desse jeito, era fácil. Agora, imagine que antes tínhamos vários games que não tiveram o mesmo reconhecimento na época e eram pouco conhecidos. A informação não era tão abrangente como é hoje. Antes, você poderia conhecer esses jogos quando algum amigo os indicasse, ou eles aparecessem em uma revista ou em um comercial de TV. Hoje, você tem dezenas de vídeos no YouTube, diversas mídias sociais, e ainda assim não é possível ter conhecimento sobre ou jogar tudo o que está sendo lançado. Detalhe que você faz pré-venda de jogos digitais hoje em dia, e eu me pergunto o porque, as cópias digitais acabam? elas são limitadas? Não né...


"Algumas mitadas que ainda tenho da minha época de ouro da jogatina"
"Algumas mitadas que ainda tenho da minha época de ouro da jogatina"

Vários filmes hoje em dia são apenas continuações de franquias já muito conhecidas pelo público ou prequels, e eu acho que na indústria dos games as empresas maiores estão começando a ter os mesmos problemas. Parece que têm medo de inovar. A Ubisoft, por exemplo, vai focar em Far Cry e Assassin's Creed, pelo visto. Temos vários remakes e remasters sendo produzidos, como é o caso da Sony. A Naughty Dog ficou anos sem produzir nada novo, apenas remaster atrás de remaster, e só agora, em dezembro, no The Game Awards de 2024, conseguiram anunciar algum game novo, que ainda dividiu o público, seguindo a lógica de likes e dislikes no YouTube e nas discussões calorosas no Twitter.


"Um dos muitos vídeos debatendo sobre a recepção do novo game da Naughty Dog"
"Um dos muitos vídeos debatendo sobre a recepção do novo game da Naughty Dog"

Um exemplo disso são os nomeados a Game of the Year: Astro Bot, Balatro, Metaphor e Wukong foram games novos, enquanto Elden Ring: Shadow of the Erdtree e Final Fantasy VII Rebirth são uma continuação (expansão) da franquia mais premiada da história, e o outro é a segunda parte de um remake. Outros games que poderiam estar ali são Warhammer 40k Space Marine 2, que é a continuação do game anterior (lançado na era 360), e Silent Hill 2, que é um remake do clássico cult da era PS2. São excelentes games, mas é cômico como não temos tantas IPs novas capazes de disputar esses pódios tão cobiçados.


O maior problema para mim é o fato de as pessoas aceitarem essas condições patéticas e deixarem as empresas controlarem cada vez mais suas vidas e o que podem ou não ter. Talvez esse seja o motivo de as pessoas estarem voltando para games antigos ultimamente, e nem é porque os games eram melhores antigamente, mas sim porque o consumidor era recompensado pelo que comprava. É isso, se você chegou até aqui, acredito que tenha chegado às mesmas conclusões ou talvez só se sinta frustrado com a situação atual do seu hobby favorito.


"Alguns games da minha coleção retro"
"Alguns games da minha coleção retro"

O que posso dizer com toda a certeza, após todos esses problemas citados, é que quando mencionei nomes de games lendários de outras eras, a nostalgia bateu forte, não é? Talvez, ao ver a foto dos meus games de PS2, algum ali tenha feito você feliz algum dia. Pois é, olhar para games digitais na minha biblioteca não me faz mais feliz; eles me lembram dessas situações, em que, a qualquer momento, posso perdê-los.


"Segue a gente no X pai"
"Segue a gente no X pai"

Comments


bottom of page