Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, uma análise de Avowed
- Griffith Souls
- 17 de fev.
- 12 min de leitura
Atualizado: 17 de fev.

Essa análise não possui spoilers.
Plataforma jogada: Steam
Você verá muitas comparações com Pillars of Eternity
O game foi jogado em Inglês, não tenho familiaridade com certos termos em português
Escrito por: Griffith, fundador da DungeonBits

O que é Avowed?
Avowed foi desenvolvido pela Obsidian e publicado pela Xbox Game Studios. Ele está disponível na Steam por R$ 350,00 ou pelo Game Pass Ultimate.
Avowed é um jogo de RPG, ação e aventura, no qual criamos nosso personagem e podemos escolher entre jogar com a câmera em primeira ou terceira pessoa. O objetivo é desvendar os mistérios e descobrir o que está aterrorizando o povo das Living Lands, como é conhecido o local onde o game se passa. O jogo tem foco em escolhas e suas consequências, como é de costume nos títulos da Obsidian.
Apesar de muitas comparações com Skyrim, vejo este game como uma "continuação" de Pillars of Eternity, afinal, ele se passa no mesmo universo e ocorre algum tempo após o segundo jogo da franquia, Deadfire.

A história de Avowed
Em Avowed, você jogará como o emissário do Império Aedyr, um lugar distante das Living Lands, onde o game se passa. O jogador precisa investigar os rumores sobre uma praga que está se espalhando pela ilha. No entanto, em pouco tempo, você descobrirá que a situação é muito mais séria do que parece.
Disputas entre deuses antigos, inúmeras rebeliões, fanáticos destruindo tudo, uma doença grotesca se espalhando e, claro, decisões difíceis, cabe a você, o jogador, lidar com esses problemas. A vantagem é que, como embaixador, as portas da ilha tendem a se abrir com mais facilidade... ou pelo menos é o que parece.
Além disso, o jogo oferece diferentes níveis de dificuldade, tanto para jogadores experientes quanto para novatos em RPGs.
Não vou comentar muito sobre a história de Avowed, pois acabaria dando spoilers.

Você disse RPG?
Avowed é considerado um RPG, mas um RPG bastante simplista, embora cumpra bem o seu papel. Criamos nosso personagem em um sistema um pouco limitado, diga-se de passagem.
Uma coisa que me chamou a atenção desde o início é que somos um Godlike, ou seja, uma raça descendente dos deuses. Em Pillars of Eternity, existem algumas variações específicas de Godlike, mas em Avowed você é "presenteado" com a mais feia delas. Seu personagem tem umas folhas de alface e plantas horríveis crescendo no rosto e no cabelo.
Claro, existe uma opção para remover esses detalhes da aparência do seu personagem. No entanto, todos os NPCs ainda vão reconhecê-lo como um Godlike, porque, em teoria, esses enfeites naturais continuam lá. Para mim, isso sugere dois possíveis cenários:
Os desenvolvedores tiveram preguiça de ajustar os diálogos relacionados a esses elementos.
Em algum momento do desenvolvimento, alguém percebeu o quão feio estava e disse: "Chefe, isso aí tá muito esquisito. O pessoal não vai gostar. Dá pra esconder esse negócio, não?"

Opinião sincera: sei que isso varia de pessoa para pessoa, mas achei quase todo mundo muito feio no jogo. Não digo que os gráficos sejam ruins, mas os NPCs, em geral, são bem esquisitos. Isso, no entanto, não afeta a qualidade do game, até porque, em Pillars of Eternity, muita gente também é feia, e o jogo continua sendo incrível.
O jogo recompensa a exploração. Você pode subir em várias casas nas cidades ou explorar cavernas e encontrará inimigos protegendo tesouros pelo cenário. Há também locais acessíveis apenas com habilidades únicas, como a capacidade de quebrar paredes. Além disso, para abrir baús trancados, é necessário ter lockpicks. Esse sistema é extremamente simples: cada baú tem um nível de dificuldade determinado pelo número de lockpicks exigidos para abri-lo.
O jogo possui uma grande quantidade de lore, com muitos livros contando a história do mundo. Avowed é feito para quem gosta de ler, assim como Pillars of Eternity, e a leitura vale a pena, ela recompensa bastante quem se dedica a explorar esses detalhes.

As escolhas que fazemos...
No começo do jogo, achei que as escolhas não fariam muita diferença, mas estava errado, e isso me deixou feliz. Dentro do possível, consegui ser um verdadeiro canalha em Avowed. Cometi muitas maldades, como de costume nos RPGs ou CRPGs que jogo. Em Avowed, as opções são mais limitadas e não tão criativas quanto em outros jogos do gênero, mas ainda assim funcionam bem. Porém, em certos casos, já dá para prever o que vai acontecer logo na primeira linha de diálogo escolhida.
Um exemplo que quero citar para reforçar o ponto sobre "RPG" vem de Pillars of Eternity: Deadfire, o jogo que se passa antes de Avowed. Nele, eu era um capitão pirata, e minha party incluía uma personagem capaz de sugar as almas dos mortos para dentro de uma lanterna. O problema era que, a cada alma absorvida, ela adoecia e ficava devastada. Mesmo assim, eu a incentivava a continuar até quebrar sua mente. Em Deadfire, você pode ser maligno, se dar bem e ainda transformar alguns companheiros em vilões como você.
Sei que o escopo dos jogos é diferente, mas eu prefiro ter o máximo de liberdade possível e momentos memoráveis do que apenas mecânicas de ação bem feitas, como em Avowed, mas com diálogos menos interessantes e escolhas mais simplistas, com menos impacto. Como mencionei antes, gostei que o jogo traz escolhas e algumas delas tiveram consequências pesadas, mas, na maior parte do tempo, não me importei tanto.
Uma coisa que gostei foi que, como me separei de todos os meus companheiros no final do jogo, eles tiveram um final feliz. Não vou dar spoilers sobre o que aconteceu com meu personagem, mas digamos que achei justo. Fiz dois finais para testar os desfechos possíveis e gostei dos dois. Um deles ficou extremamente confuso, era para ser um final maligno, mas o jogo não te permite ser 100% cruel e se tornar o próprio demônio, infelizmente.

Habilidades e Atributos
O jogo permite que você escolha entre diversas armas, como espadas simples, machados, maças, armas de duas mãos, lanças, adagas e varinhas mágicas. Também é possível usar escudo. Além disso, há uma árvore de habilidades bem interessante, não tão vasta quanto em Pillars of Eternity, mas funcional.
Podemos aprender habilidades para congelar inimigos, lançar bolas de fogo, paralisá-los no local para atacar com mais facilidade, entre outras opções. Também há uma árvore de habilidades especial, que desbloqueia novos poderes conforme avançamos no jogo e está diretamente ligada aos segredos do nosso personagem.
Como todo bom RPG, o jogo conta com uma lista de atributos do personagem, permitindo aprimorar força física, constituição, percepção, inteligência, e outros atributos essenciais. Todas essas árvores de habilidades e atributos desempenham um papel fundamental no gameplay.
O combate é muito divertido e, para mim, é um dos destaques do jogo. Os efeitos são bem feitos, e a reação dos inimigos ao serem atingidos por magias é impagável. A variedade de feitiços e habilidades permite inúmeras combinações e possibilidades de builds, e gosto do fato de que o jogo te dá total liberdade para experimentar o que quiser.
Quando você tem dois companheiros na party, as batalhas ficam ainda mais dinâmicas. E caso eles caiam em combate, você pode reanimá-los e continuar a luta.

Companheiros
Durante a jogatina, encontrei alguns personagens que se tornaram meus companheiros. O interessante é que cada um possui uma habilidade específica para ajudar nas batalhas, e é possível combiná-las estrategicamente. Por exemplo, Marius consegue prender o inimigo no local, praticamente paralisando-o, permitindo que você e seu outro companheiro ataquem com mais facilidade.
A barra de seleção de habilidades é bem prática, e o jogo pausa quando você abre o menu de habilidades, o que é extremamente útil durante o combate.
Sobre os companheiros, pessoalmente, não gostei de nenhum deles, questão de gosto mesmo. Cada um tem sua própria personalidade e história, com side quests curtas que permitem conhecer um pouco mais sobre o passado deles.
Uma coisa que me chamou a atenção foi que meus companheiros permaneceram ao meu lado, mesmo eu sendo um ser maligno no jogo. Eles reclamavam das minhas decisões, mas continuavam na party. Só no final, quando escolhi ficar do lado dos "caras maus" (vamos deixar assim para evitar spoilers), é que eles me abandonaram, mas apenas no desfecho do jogo.

Trilha Sonora
Não achei nada incrível ou chamativo na trilha sonora de Avowed, nada que se destaque. Porém, acredito que isso seja uma opinião pessoal, e muita gente pode gostar das músicas do jogo. Em certos momentos, nem reparei na trilha sonora.
Inclusive, uma recomendação de música para uma segunda run no jogo é Blind Guardian, uma banda fantástica. Eles fazem músicas, em sua maioria, sobre temas de fantasia, inspiradas em livros como The Wheel of Time, The Lord of the Rings, Game of Thrones e muitos outros temas incríveis.

Bugs e outros problemas desnecessários
Apesar de muitos trechos de gameplay mostrados terem dividido a opinião do público, algo ficou evidente ao lançarmos a versão de early access. Entre as pessoas com quem conversei e que também jogaram, ficou claro que o jogo está cheio de bugs. Um amigo até comentou que perdeu três horas de progresso por causa disso.
Eu tive vários problemas menores, como crashs, personagens desaparecendo de locais onde eu precisava encontrá-los e até caí debaixo do mapa algumas vezes. No entanto, nada tão grave a ponto de me fazer parar de jogar.
Em certos momentos, parece que as quests dos nossos companheiros foram feitas às pressas. Os próprios desenvolvedores deram a entender, em alguns comentários no X, que o jogo seria lançado com alguns bugs. A palavra usada foi "janky", que pode ser traduzida como "improvisado" ou "instável".
Um problema que achei um pouco chato no começo foi a câmera em terceira pessoa, que fica um pouco confusa, assim como em Skyrim. Em Avowed, você pode alternar entre primeira e terceira pessoa, mas dá para notar que o jogo foi desenvolvido para ser jogado em primeira pessoa. Achei incômodo o jeito que o personagem "derrapa" ao virar em terceira pessoa, mas isso não afetou minha experiência de jogo. Foi apenas algo que percebi e achei um pouco engraçado.
Muitas pessoas reclamaram que não é possível roubar itens e que os NPCs não se incomodam com isso. Pensando bem, isso realmente soa estranho. A ideia do jogo é que você seja um embaixador, ou seja, alguém que não sairia roubando por aí. No entanto, estamos falando de um RPG, e acho que faltou um pouco de criatividade por parte dos desenvolvedores nessa parte.
Sabemos que Avowed não é um Skyrim, mas poderiam ter adicionado algo mais interessante nesse aspecto. Quanto à polêmica de não poder matar NPCs livremente, sinceramente, acho que isso não faz a menor diferença para o jogo.

O que eu penso sobre a discussão cansada do "Woke" ou Pronome Neutro no game?
Eu acho essa questão do pronome neutro algo bem irrelevante. No jogo, é simples: na tela de seleção do personagem, você escolhe o seu gênero e pronto. O jogo não te força a nada.
Joguei em inglês e não vi nada estranho ou bizarro nos diálogos. Porém, acho um pouco curioso quando esse tipo de coisa aparece em jogos de temática medieval, mesmo que sejam de fantasia, porque pode acabar quebrando a imersão. Existe um conceito chamado "suspensão de descrença", que basicamente define o limite do que conseguimos aceitar em uma obra antes de percebermos que algo soa falso ou deslocado. Como sou alguém que assiste wrestling, conheço bem esse termo.
Meu único problema é que isso me tira um pouco da imersão, pois parece algo vindo diretamente do século XXI inserido em um mundo medieval fantasioso. Sim, a base de Avowed é um universo medieval.
Além disso, o diretor de arte do jogo já deixou bem claras suas visões, e está tudo bem. Até houve uma treta bizarra com Elon Musk no X, e até agora não acredito nas coisas que li.
Acredito que todo desenvolvedor pode colocar suas visões e opiniões políticas no jogo, afinal, a criação é dele. Para mim, isso é indiferente, desde que eu goste do jogo e me divirta jogando está tudo bem.

A história dividindo o público e minha opinião sobre isso
Ultimamente, no X, houveram muitos debates e até brigas a respeito da história, pois vários veículos disseram que a história não é boa, outros que é mediana, e por fim, muitos não gostaram dela. Isso causou muita discussão, e até mesmo o próprio tema da história foi tópico, como, por exemplo, os temas da vida real abordados no game, como o colonialismo. No fim das contas, o que é fato é que a história é relativa: o que é bom para mim pode não ser bom para você. Pautas sociais ou eventos históricos referenciados no game não o tornam imune a críticas; se fosse assim, Concord deveria ser ovacionado e o maior sucesso da Sony. Mas o mundo em que vivemos não é tão fácil. Para que algo tenha uma aprovação muito boa, é preciso que a história seja capaz de cativar as pessoas, e as pessoas têm gostos diferentes. Às vezes, um romance dá conta do recado, ou batalhas épicas são exatamente o que as pessoas procuram. No fim das contas, Avowed é um game com o qual pude me divertir, dar umas risadas e esquecer um pouco este mundo chato e problemático em que vivemos. Sou grato por isso.

Opiniões
Avowed é um bom game para mim, e nada mais. Eu esperava algo horrível, mas tentava manter a fé de que a Obsidian sabe o que faz, e, bom, fui recompensado. O game conseguiu me entreter por mais de 50 horas. Tive problemas com ele, fiquei frustrado também, mas se fosse pesar em uma balança os bons e maus momentos, creio que fica um sentimento positivo. Não é um candidato a jogo do ano e foi uma péssima ideia lançar esse game após Kingdom Come: Deliverance II, um dos games mais aguardados, aclamados e um claro candidato a GOTY de 2025.

Avowed pode ser um bom game, mas não pense em pagar R$ 350,00 na Steam como eu. Jogue pelo Game Pass, que vai ser mais proveitoso. Fui extremamente duro nas críticas porque acho patética essa ideia da Microsoft de forçar as pessoas a usar o Game Pass. Quando eu digo forçar, digo: ou você paga R$ 350,00 na plataforma onde quer jogar ou usa o Game Pass. Não gosto de jogos como serviço; não tenho nada contra, mas não me sinto à vontade com isso e acho um tanto bizarro como as vendas são canibalizadas em favor do serviço de assinatura. Mas, enfim, não sou mestre em economia; quem entende disso são as pessoas da Microsoft.

Eu sou só um cara que gosta de jogar videogames e decidiu comprar Avowed porque ama Pillars of Eternity. Não sou o senhor da razão, é apenas minha opinião. Mas fica um questionamento: se eu tivesse pagado 60 reais, ou sei lá qual o valor do Game Pass Ultimate, para jogar, eu deveria pegar mais leve nas críticas? Não acho que seria motivo para isso. Afinal, se querem cobrar um preço exorbitante, então a qualidade deve ser justa ao que você está recebendo. Posso citar dezenas de exemplos de jogos em que paguei mais barato do que Avowed dentro dos últimos 2 ou 3 anos e recebi mais do que esperava: Elden Ring, Baldur's Gate 3, Kingdom Come: Deliverance II, Silent Hill 2 e Metaphor são alguns casos. Algo que não saiu da minha cabeça é que gostei de Avowed, mas talvez ter jogado ele imediatamente após finalizar Kingdom Come: Deliverance II foi uma péssima ideia. A diferença de qualidade entre os games é brutal.
O mês de fevereiro não é para amadores em 2025; ainda teremos Monster Hunter: Wilds e Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii. Ou seja, muita coisa boa em um curto período de tempo.

Avowed é um game legal, e isso é o que importa. Tem mais acertos do que erros. Vamos esperar a recepção do público, pois o game lança oficialmente amanhã, 18/02/25. Mas, por ora, acredita-se que o game está indo super bem em suas vendas. Existem mais de 9000 pessoas jogando a versão deluxe, que custa 400 reais na Steam.

Recomendado para ser jogado no Game Pass, o game é divertido, embora a diversidade de inimigos seja bem fraca. As side-quests dos companheiros não são tão interessantes, e nem os companheiros em si são muito legais, na minha opinião. A história, como disse, é subjetiva ao jogador, mas não vejo motivos para não recomendar o game. Inclusive, digo para que em algum momento dê uma chance a Pillars of Eternity, que é um game fantástico e o meu favorito desses desenvolvedores.
-Muitos Bugs
-Trilha sonora mediana
-História interessante
-Não gostei tanto das side-quests que fiz
-Companheiros desinteressantes
-Criação de personagem simples
-Combate muito divertido
-A exploração te recompensará demais
-Pouca variedade de inimigos
-O cenário do game tem um problema sério com ursos, tem um a cada 10 metros quadrados.
-Suas escolhas tem impacto, ainda que bem limitado. (Tentei ser um pau no cu mas tive limites)
-Liberdade para fazer suas builds
-Efeitos legais das magias durante os combates
Joguei em inglês e não vi problema algum no áudio ou algo do tipo
-Por R$ 350,00 esse jogo não vale a pena, jogue no gamepass
-É uma continuação do mundo de Pillars of Eternity e isso me deixou feliz.
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